sábado, 17 de janeiro de 2009

SINFONIA DA CHUVA

Um clarão risca a noite, ouve-se um estrondo e as luzes se apagam, escuridão total. Todos emudecem. Segundos de silêncio que parecem eternidade. Vagarosamente a chuva vaí caindo, gotas rolam continuamente pelo telhado até arrebentar-se sobre a calçada, ploc plec tlec. Cada gota um pingo cada pingo uma nota. Caí um DÓ aqui, um RÉ ali, caí um MÍ que não ouvi, um FÁ acolá, um SÓL que não tem, um LÁ que não vem, um SÍ sem fim. Gotas que pingam sobre o papelão PLOC, gotas que pingam sobre plástico PLEC, gotas que pingam sobre tábuas TLEC, gotas que sobre baldes pingam PLOC TLEC. Sons altenados e rítmicos formando uma pequena bateria musical de bela melodia, aos encantos dos ouvidos envolvendo coisas do dia a dia. Aquelas gotas preguiçosas agora são mais rápidas e em maior quantidade, aos poucos este musical vaí aumentando, seu barulho já parece superar as grandes baterias. Novos instrumentos somam-se a esta orquestra, as bruscas trovoadas parecem o retumbar de tambores quebrando ligeiramente a melodia. Como se fora um trompete, o vento busca também o seu espaço, uivando por entre as árvores. Uma goteira se desfaz sobre a folha de zinco, como o bater de pratos numa orquestra, em resposta a regência do maestro. A escuridão permanece. Por vezes iluminada pelos relâmpagos que antecedem as trovoadas, como se flash registrassem em fotos o momento. A maestria da natureza torna nossa pequena bateria em uma grande e ordenada orquestra musical, a executar sinfonia indescritível. A platéia mergulhada em sonhos, extasiada dorme. E como tudo começou, findando, a chuva encerra poéticamente seu concerto, para receber os aplausos. E fechando lentamente a cortina do palco da noite, desperta o sol com novas melodias.

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