segunda-feira, 14 de setembro de 2009

CUMPLICIDADE

No âmago de sua alma
Aplaca intenso amor
Fulguras o rebelde do imortal
Avilta a performance de um ser
Recluso no íntimo da vida
E no rol das multidões
Sente-se só
Não fala, não pensa
Só age
Extravasa em piruetas na dança
Esse amor incessante
Sob aplausos
Retorna
Á clausura da solidão

CUMPLICIDADE

Sob a luz entumecida
Fogosa realça em riste
A silhueta do busto
Instigando o jovem guerreiro
A marcha da luta injusta
Sua lança enrejecida
Avança floresta adentro
Desliza na calda leitosa
Sobre o doce hímem de mel
A virgem deusa imolada
No sagrado é profanado
Gemidos e sussurros
Enceram a guerra de loucuras
No silencio da noite
Ofegantes
Dois corpos repousam nus

domingo, 24 de maio de 2009

Corpo & Alma

adocicada pelo vinho desfila radiante sob olhar embevecido
quando uma piscadela escapa aos olhos entumecidos
deixando-a com a face rósea
em êxtase aproximam-se
apenas a respiração ofegante é coadjuvante
não há falas, o olhar impávido descortina o amendoado daquela tez metalasse
que exala um sabor achocolatado levando-o ao delírio
em caricias repetidas chocam-se os corpos e apenas sussurros
quebram o silencio

quinta-feira, 21 de maio de 2009

liberdade

Alça voo em sonhos
De criança
O sol ao seu alcance
Ícaro se lança
Altiva e típica
Manifesta-se a vida
Ara o arado
Sob o sol árido
Sem rodeios o pastor
Apenas espreita
Dédalo aflito grita
Ícaro, Ícaro, Ícaro
Um mergulho no infinito
Justifica
As palmas da perdiz

citação

Ontem é história
Amanhã é mistério
Hoje é uma dádiva,
por isso se chama presente!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Gélida Curitiba

A CADA MANHÃ QUE ESTRÉIA SEU SORRISO EMBEVECIDO
NÃO OUÇO MAIS OS TROPEIROS SOM DOS MOTORES ROUCOS
SE AFOGAM NO ASFALTO SONHOS DE RIO CORTADO
EM TUBOS ARMAZENADOS DO PINHO NATIVO ÉS CONCRETO ALTIVO
NA TERRA DOS PINHEIRAIS TIRADO DO SEU SOSSEGO
ROUBADO DE SUA PAZ CHORA,
CHORA .....
MEU RAPAZ

domingo, 19 de abril de 2009

absorção

No começo do fim, o começo
Rasos traços, tragos ingratos
Decadencia
O cigarro, a drogra o esboço
No fundo do poço
O prazer passado,
Estampado
Rodado de seda, sapatilhas gastas
Lastimas
Encobre a lucidez
Fuga
O resgate não vem

sábado, 11 de abril de 2009

Manchete Perdida

Manhã de inverno. O sol ainda não desponta, mas a claridade lá fora prenuncia o momento da partida. Degladia-se com as cobertas, suplicando mais um minuto de sono. A noite havia sido tempestuosa, marcada por rápidos cochilos e devaneios incessante. Sua mente agora divaga os acontecimentos anteriores ao dia. Relembra nitidamente a última inquisição de seu chefe. Tem certeza que é isso que você quer? Sônia. Sim, absolutamente, sim. Sua resposta sem nenhum constrangimento, deixa-o perplexo, restando apenas confiar-lhe a tarefa e desejar-lhe boa sorte. Parece acordar de um pesadelo, imagina haver sonhando tal responsabilidade, mas em meio a esse torpor sonolento, sobressalta e encara a realidade. Não há mais como retroceder, vê junto ao criado mudo, o bilhete de passagem e o envelope com as últimas instruções lidas minuciosamente e as malas prontas para a viagem. Arruma-se demoradamente, postergando o tempo. Mas não lhe resta alternativa alguma. Procura acercar-se de que tudo esta em ordem. As janelas bem fechadas, gás desligado e nenhuma torneira pingando. Afinal, seu retorno é uma incógnita. O táxi a deixa na estação, apenas a cinco minutos do horário previsto para a partida. O tempo suficiente para acomodar sua bagagem e localizar o seu vagão. O sacolejar lento do trem em movimento, acelera seus batimentos cardíaco, causando uma sensação de medo e ao mesmo tempo desafiador pela decisão tomada. Vê os últimos sobrados da cidade, perderem-se de sua vista, e em pensamentos vislumbra o inicio de sua carreira. Acabara de formar-se em jornalismo, e indicada pelo reitor da universidade, apresentou-se para seu primeiro trabalho. Como estagiara no Jornal dos Bairros, onde dois anos já se passaram. Seus trabalhos resumem-se em cobrir eventos escolares, ações de moradores de bairros um e outro evento social, algumas vezes também um pouco de esporte. Diante dela agora a grande oportunidade! Uma reportagem de cunho investigativa, e o resultado poderiam vir abalar não só a vida social do povo, mas influenciar os movimentos políticos e religiosos contrapor-se a economia do país e quem sabe alterar o andamento dos grandes centros comerciais no mundo. Talvez até desequilibrar as bolsas de valores IBOVESPA e NASDAQ. Aí então seria reconhecida uma profissional. Imagina as manchetes de jornalísticas e chamadas televisivas: “Jovem repórter desvenda o segredo do Ser”. “Nada mais está encoberto sob o universo”. “Repórter é recebida pelo Congresso como heroína”. TREC TETREC TREC o ruído ensurdecedor nos trilhos esvaem seus pensamentos perdendo-se no cansaço pela noite anterior mal dormida. O corpo desfalecido parte para o mundo dos sonhos. A primeira hora da tarde, uma voz longínqua, a desperta. È o contramestre solicitando os bilhetes.
Boa tarde, senhora, desculpe-me acorda-la. Mas preciso de seu bilhete para marcação. Ora, não se desculpe. Aqui está meu bilhete. Em que cidade nós, nos encontramos no momento? Alexandria, senhora. Falta muito ainda para chegarmos a Redenção? Apenas três horas, senhora. Com sua licença, tenha uma boa viagem! Obrigada. Parecia estar viajando há dias, e ainda faltavam três horas! Sentia o corpo dolorido e levantou-se se espreguiçando para esticar os músculos, em seguida soltou-se na poltrona como se o peso tivesse dobrado. Aproxima-se da janela, o vento forte toca seu rosto e seus olhos automaticamente se fecham e o recuo é instantâneo. A janela é baixada e pelo vidro aprecia a paisagem que às vezes lhe fogem da visão pela velocidade do trem. Um mar verde de pastagem se delineia a sua frente, vez ou outra uma arvore ou um capão de mato assoreia a mansidão deste verdejante oceano. Passam das quatro horas, quando a força da locomotiva vai se estagnando e com um assobio de dever cumprido pára na estação. Um pouco cambaleante pelo sacolejar sofrido, desce apreensiva do veículo. Em vão, seu olhar inóspito procura algo familiar para justificar ali sua presença. O maleiro, com um carrinho de carga, vem ao seu encontro. Sua bagagem, madame? Posso ser-lhe útil. Oh, sim. Aquelas duas malas azuis com adesivos de aeronaves. Quer que chame um táxi? Madame. Sim, obrigada. Absorto em pensamentos, mal consegue visualizar o trajeto que percorre. Vielas estreitas cobertas por paralelepípedos, ladeada por casas datadas do século XVII, em precário estado de conservação. Chegamos senhora. Visione Hotel é aqui. Obrigada, quanto lhe devo. È trinta, senhora, se tiver trocado.... Aqui está. Pode me ajudar com as malas? À entrada da portaria é recebida por um moço jovial, que a cumprimenta com um sorriso como se já a conhecesse.
Boa tarde, D, Sônia. Seja bem vinda. Sua reserva foi reconfirmada ainda esta manhã, eis as chaves quarto 32, é no terceiro andar. Por aqui, por favor. O quarto é amplo, com móveis modular, uma cômoda, dois criados-mudo, um pequeno guarda-roupa e uma grande e estranha cama de casal revestida com uma cocha de linho cor-de-rosa trabalhada em babados acorrentados, abaixo de um descortinado mosqueteiro. Uma porta-janela com acesso a varanda, onde se vê a única praça da cidade, com quatro grandes coqueiros trançados em si formando um grande W. O tempo indevassável é infinito, e a cada segundo o cansaço mina o seu ser roubando o raciocínio lógico. Sem mesmo despir-se, atira-se na cama naufragando em êxtase de profundo sono. O sol á pino, atravessa a vidraça do quarto em vasta claridade, anunciando mais um dia. Degladia-se para livrar-se das cobertas. Enquanto o despertador é socado de seu triiimmmtriirmmm. Sacode a cabeça para ambos os lados, e procura ambientar-se. Os olhos inchados buscam o inimaginável. Uma longa noite de sono e sonhos tinha atravessado a barreira da realidade. Olha a sua volta e vê que tudo esta como havia deixado. Sobre o criado mudo não há bilhetes de passagens nem envelopes, a mala desfeita está no alto do guarda roupa. Sua mente agora divaga os últimos acontecimentos. Relembra nitidamente a última inquisição do chefe. Tem certeza de que é isso que você quer? Sônia Sim, absolutamente, sim. O chefe perplexo, ainda insiste. Não quer mesmo assumir essa reportagem? Parece agora acordar para um pesadelo. Arruma-se demoradamente. Não há como retroceder. Adeus manchetes.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Sacerdotisa Sagaz

Na idade em que o paganismo sucumbia à força expressiva da religião, onde os sacerdotes nomeavam bispos para doutrinar os povos. Uma sacerdotisa imponente em seu oráculo, rejeitava veementemente como verdadeira o Deus salvador. Acreditava reinar somente ela no Egito dos fariseus, como se fosse o raio de sol daqueles miseráveis incautos. Dona ela da sabedoria oculta da magia, empunhava cajado vivo ordenando aos súditos guerrear com as forças sacerdotais da nova doutrina. Luta travada em praias desertas. Levantava marola de tombamentos em refração de sangue expirando corpos agora inertes. Depondo-se as armas ao chão como se a batalha houvesse terminado, o que restava de vida não cantavam vitória nem se encontravam na glória. Apenas caos e sangue pintavam a tela branca da praia. No ir e vir das ondas um só lúgubre murmúrio, celebrava o vitorioso. Principiava o inverno, e os mutilados dessa guerra com suas esposas sofridas e sem abrigo, tinham suas esperança em neves derretidas. E se perdiam no rastro da fuga. Refugiados em região montanhosa, empunhavam os novos cajados, e ainda convalescentes, edificavam moradas. Era o recomeço, em cada olhar estampado, da nova vida. Sob a égide de um rei protetor, majestoso em seu trono, ostentava ele uma realeza indelével. Reconhecido de benevolência e justiça, frutificara a vinha. Propondo uma vida fértil e segura nas muralhas do castelo. A longevidade espiritual será o mote da nova vida, no todo e sempre de cada um daqueles que justificadamente fugiram a saga da cruel sacerdotisa.

segunda-feira, 30 de março de 2009

SEM (sentença) TENSÃO

Cada cabeça uma sentença
Um pescosso um corpo
Molejo, sacolejo
Um balé que encanta
Desencanto
Cada corpo um rosto
Um gosto prá cada gosto
Desgosto
Que vira o rosto
Que tiragosto
O camarão abraçadinha
No bar
A geladinha
Quem adivinha
Cada sentença uma cabeça
Um corpo um pescosso
Que rola

terça-feira, 10 de março de 2009

PÉS NO CHÃO

Franca batalha na terra
Assolam os pés descalços
No confronto com o progresso
Onde poucos tem sucesso
No regasso desta vida
Descansam pés sofridos
No veio centro da terra
Pés que não fazem guerra
Sinfonia que deflagra
Sonhos de pés mimados
Ao final só descasam
Os pés após a dança

citação

Nas coisas básicas há unidade
Nas outras mais, liberdade
E em tudo a curiosidade
Sto. Agostinho

AREMESSO

Sol, pedra, estilhaço Quando o corpo cresce No aconchego do abraço Entre canção e prece Vaí, volta e fica Desnuda beleza pura Lançar pipa na rua Estica, lança e apruma Entristece a criatura Lançar pelote da funda

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Sono meu

MINHA FLOR MEU JASMIM
FALA ALTO PRA MIM DIZES,
EU QUERO OUVIR O QUE EMBALA
MEU SONO NAS MANHÃS DE OUTONO
O CANTAR DA PASSARADA
NO PESSEGUEIRO FLORADO

O Beberrão

O vento fresco daquela tarde bailava estonteantes as folhas das arvores, ali plantadas simetricamente como se fosse uma cerca. Na varanda o silencio absoluto, quebrado apenas pelo zumbido de uma mosca, que tentava insistentemente pousar na boca de Jackie BB, só não conseguindo o seu intento, devido sua barba espessa e o bigode farto, que se retorciam vez por outra. Jackie BB, assim era chamado Lindolfo pelos amigos do bar, BB não de big brother, mas de bebe babão. Apelido lhe dado, pois toda a vez que se embriagava ele babava. Jackie, não o extirpador mercenário de Londres, mas Jackie o extirpador de bebidas, pois sempre que podia sorrateiramente surrupiava as bebidas vizinhas ao seu copo, servidas no balcão. A sua necessidade de beber era premente. Cabe aqui um fato. Em uma daquelas tardes de sempre, bebendo no bar, Jackie pediu ao botequeiro um copo de água e rapidamente o trocou com o copo de pinga vizinho, sorvendo em um só gole aquele liquido precioso. Minutos depois o dono da mesma, virou-se para degustá-la, e também num só gole ingeriu o conteúdo, entornando de imediato uma chuveirada de água pela boca, aos brados de xingamento a quem lhe havia aprontado aquela. Sob as gargalhadas esfuziantes dos presentes, Jackie, em um riso quase que sussurrado, encolheu-se no canto do bar, como que a esconder sua criancice. Ele era um brincalhão. Mas agora ali estava, despojado no alpendre, como se fora um amontoado de trapos, depois de uma brava bebedeira, o que fazia todas as tardes. Estava ele passando por uma fase um tanto difícil. Havia perdido o emprego, mas como ele mesmo dizia; emprego e como trem, perde-se um outro vem! E justificava que após anos de trabalho, eram merecidas as férias por assim dizer, apesar de forçadas. Aproximei-me devagar, não queria importuná-lo, e ouvindo o tilintar de talheres, dirigi-me aos fundos do bangalô, (é assim que chamam as casas lá no sul) e deparei-me com sua mulher nos afazeres domésticos pos almoço. ___Boas tarde, comadre. ___Boas, compadre ___Então, como estás, tudo bem? Vi que o compadre, índio velho, esta borracha novamente, nem quis acordá-lo, passei direto pela varanda. ___É, compadre, o homem desembestou a beber de uns dias para cá, e não há quem o segure, já não sei mais que fazer, tenho medo que morra a qualquer hora. ___Pois é, comadre, dizem que a bebida mata lentamente. ___Estou cansada de lhe dizer. E sabe o que ele me responde debochadamente? “Não se preocupe prenda minha também não tenho pressa de morrer.” ___E aí que faço eu agora? ___Bem, comadre, quando a preocupação bate a porta, precisa pedir socorro, verei o que posso fazer. Retornei lentamente ao alpendre, e pensativo relanceei os olhos, naquele amontoado de trapo e recordei. Jackie era um homem de princípios éticos e morais, fino trato e até vaidoso, seu nome Lindolfo Moura Motta Barbosa, era honrado nas cercanias daquela região, o que o levaria a tão vil situação de estar despojado ao chão. Lembro-me de ouvi-lo falar, não uma, mas muitas vezes, com sua voz embevecida mais firme, bebida não da casaca pra ninguém, pelo contrario destrói mais alguém. Abominava de tal maneira o destilado, que jamais imaginei vê-lo daquela maneira. Os surtos de meus pensamentos foram-me roubados pelo gemido e remelexo daquele, antes esbelto e aprumado corpo, agora gordo e desleixado ali no chão deitado. Com os olhos vermelhos e as pálpebras semi serrada, olhou-me de esgueiro como que desconfiado da minha presença, com a voz enrolada pela embriaguez, pronunciou algo ininteligível. E tentando pôr-se sentando, meio em desequilíbrio, aquele ócio pesado. Disse com ar de espanto: ___Caramba! Não é que vejo em minha frente meu compadre Dante, a que devo honrada presença. Atinado pelos pensamentos recentes, mal pude responder. ­­­___Apenas, uma visita. E recompondo-me de penalidades, continuei. ___Eu estava de passagem, e vendo o índio velho, aí deitado, pensei que estive passando mal e me acheguei para uma ajuda, mas vejo que tu estás bem. ___Bem? Que nada compadre, bem esta o burro que em dia de chuva não puxa a carroça. Eu na verdade estou de mal a pior. Nem sei por que lhe digo isso. Mas se achegue cá pra dentro, vamos tomar um trago. ___Obrigado compadre. Desta que tu bebe eu já estou batizado, não uso nem pra curar dor de dente. Por causa dela já quebrei cerca, rasguei calças e fazei valeta, não quero ser peixe em meio a terra. ___Bem, aí te digo mais vale um borracho amigo, do que um guapo frouxo. Não te peleis e se adentre, vou pedir pra Maroca fazer um mate, e tu me acompanhas. Passamos as ultimas horas da tarde em bate papo fervoroso, entre uma e outra regateada de mate, eu frisava em lembrança, bons tempos de vizinhança. Mas a cruel realidade em gravura viva se apresentava, exacerbando a impotência diante do socorro pedido. Por contingência do trabalho, passei alguns anos fora da região, deixando de të-los em contato. E ao retornar, qual não foram tamanha surpresa e espanto, ao saber que Jackie BB por conta de suas bebedeiras, havia contraído doença gravíssima, vindo a falecer. Sua mulher em detrimento de sua doença, tudo tinha vendido na esperança de salva-lo, estando hoje a viver de favores em casa de parentes. Essa impotência faminta cala a expressão dos sentimentos, e sem palavras recolho-me só em pensamentos e ouço sua voz. “Bebida não da casaca a ninguém, pelo contrario destrói mais alguém”. Fim

Um intruso na Praça

Poderia ter sido um dia como qualquer outro, mas não o foi. Como todas as manhãs, costumava atravessar a Praça Messiânica em direção ao trabalho. Observando curiosamente as pessoas que por ali passavam. Sempre um ir e vir frenético, algumas apressadas outras a caminhar lentamente, as mulheres em geral a olhar as vitrines das lojas que ladeavam a praça, as crianças em algazarra a brincar no parque. Por um motivo qualquer ou razão indefinida, nesse dia vi apenas um homem, trajava uma longa capa marrom, e parado estava junto à lixeira da praça. Dirigi-me apressado para o escritório. O elevador como quase sempre naquele dia estava quebrado. Subi três lances de escada. À porta do escritório, ainda ofegante, apanhei a correspondência que ali se encontrava e entrei. Olhei uma a uma as correspondências, nada havendo de interessante joguei-as sobre a escrivaninha, já entupetada de papéis, afrouxei o no da gravata dirigindo-me ao bebedouro próximo a janela. Servindo-me de um copo com água, relanceei os olhos pela vidraça embaçada pela nevoa da manhã. E novamente vi aquele homem lá em baixo em mesma postura. Não saberia explicar o porquê, mas intrigou-me aquele cidadão ali parado. Por um longo período fiquei a observá-lo Imóvel impassivo, vez ou outra o vento fazia bailar sua capa como ondas em repetida sincronia. Nem um movimento ali permanecia ele. Meus pensamentos iam e vinham intrigados com aquela inusitada situação, como se um intruso houvesse invadido minha privacidade. Quem será ele? O que estará planejando? Ondas de assalto, estupros, seqüestro noticiados diariamente, me conduziam à conclusão de que aquele cidadão seria um olheiro? Estaria ele de campana planejando alguma coisa? Estaria ele acobertando ou vigiando possível roubo ou seqüestro nas imediações? Providencias deveriam ser tomadas. O que fazer? Seria o caso de a policia ser comunicada? Mas e provas... Talvez devesse ir até lá? E... Dizer o que? Não, não acho que estou sendo tolo e precipitado.
A voz suave da Srta. Adriana, minha secretária, que dizia: ______Bom dia Dr. Célio, deseja iniciar por qual processo hoje? Retrocedeu o meu ser para o real. Já refeito do cansaço ministrado pelos lances da escadaria, ajeitei cuidadosamente o nó da gravata e ponderei. ______ Poderíamos começar pelo processo do Sr. Melquiades Azevedo. A cada manhã repassávamos os processos em andamentos, antes do embate cruel nas salas de audiências. Sr. Melquiades, processo de longa data que tratava da desapropriação de suas terras, legitimamente adquiridas, e que o estado por sua vez as queria para a construção de nova hidroelétrica. Iniciamos o trabalho, estudando e revisando lauda por lauda. E a cada folha analisada, eu na minha incontinente desconfiança aproximava-me da janela, para ver ali estático aquela criatura a importunar-me. Na minha cabeça fervilhavam os pensamentos. O que poderia estar acontecendo? Foi uma longa e eterna manhã, de poucos processos analisados e muita janela sondada. Ao som das doze badaladas busquei pela minha refeição mais substancial do dia, almoçava invariavelmente quase todos os dias, no restaurante ao largo daquela mesma praça á exceção dos dias em que almoçava com clientes. Não mais podendo recuar os ponteiros do tempo, que a cada segundo engoliam freneticamente o dia. Providenciei para que as audiências daquela tarde fossem postergadas. Dando-me ao inusitado luxo de um passeio pela orla frontal àquela praça. Uma avenida arborizada em pista dupla com uma floreira central a separá-la. Passos vacilante, caminhada indecisa. Amiúde meus pensamentos flagravam aquele homem parado. Concatenando idéias de desconfiança e ao mesmo tempo excluindo-me de qualquer responsabilidade, afinal o que eu tenho haver com isso. Fui conjeturando supostos acontecimentos futuros. Assim por um período considerável, andei só eu e meus pensamentos. De repente um estrondo uma colisão à frente. Submergi então do meu estado letárgico tal qual um submarino que vem á tona. E aí percebi o quando já havia me distanciado. Sem nenhum paliativo, restara-me retornar ao ponto de origem, a praça. Agora sim passos firmes e cadenciados. Uma decisão tomada. Vou ter com o sujeito. Decidido a inquirir o individuo que havia me roubado a normalidade daquele dia. Lá estava eu, já avançava quase o meio da praça, quando percebi movimentação estranha junto á lixeira. Não uma, mas varias pessoas ali estavam. Fui me aproximando lentamente. Crendo que o pior havia acontecido. Os que ali se encontravam gesticulavam, ora se agachavam, pareciam tirar ou depositar alguma coisa aos pés daquele homem com sua longa capa marrom imponente ao lado da lixeira.
Parei por um instante, tentando divisar o que estava realmente acontecendo. Mas um vaso de corbelhas encobria-me a visão. E quem estava ali agora estático, imóvel e indeciso era eu. Minhas mãos umedeceram o suor descia pelo meu rosto como se eu estivesse derretendo. Meu coração palpitava acelerado e a curiosidade fazia fervilhar o meu estomago como um efervescente num copo d’aguá. Afrouxei o nó da gravata, inspirei profundamente e me pus em marcha. Sem vacilar parei bem a sua frente. Olhei-o de cima abaixo, aquele corpo modular de aproximadamente 180 m de altura. Não apresentando expressividade vital alguma. E sem nenhum constrangimento, não contive a explosão de gargalhada, ao ler abaixo de seus pés a seguinte frase: Não seja um manequim de vitrine, que não sente frio ou calor. Doe um pouco de amor. Campanha fraternal do agasalho.
Colabore!

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Condenação

Já fui herói e vilão/ Presente nesta paixão/ Culpado e inocente/ Diante de tanta gente/ De réu a defensor/ No apíce do amor/ Por amar e não ser amado/ Sou o único condenado/

Amor Consumado

Amar é tão sublime Faz-me sentir um menino Meu amor é constante Meus desejos nem tanto Por estar apaixonado Quero ficar ao seu lado Te amarei todos os dias Pois ainda serás minha No leito com fervor Consumando meu amor

Mistério

O brilho do sol na areia/ Emoção final desencadeia/ Olhando as ondas do mar/ Eu me ponho a imaginar/ Que magnifica grandeza/ Sem perceber sua beleza/ E o mistério das ondas na areia/ Invade o meu corpo inteiro/ Com a brisa suave do ar/ Fazendo de ti eu me lembrar/ Saboreando a minha dor/ Por falta do teu amor/

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Quebra

Rompe em versos o segrêdo Liberto por grande mêdo Da mais dificíl vocação A conquistar seu coração Olhar que tu me lança Renasce e cresce a esperança Para amar e ser amado Não sentir-se só culpado

sábado, 17 de janeiro de 2009

ALI BÁBÁ E OS 40 LADRÕES

O fato de ter sido o filho único, não quer dizer que tenha sido mimado, pois nunca adormeci com cantigas de ninar ou contos infantis. Falando sério vim a conhecer os três porquinhos, quando já faziam parte da feijoada. Branca de Neve ouvi falar, mas na realidade eu vi sim, minha mãe branca de susto com as contas de água e luz vencidas no final do mês. O Príncepe Encantado, este sim fez parte de minha vida, pelo menos por um tempo, antes de ir-se desta para uma melhor, meu pai. Talvez não tão príncipe, mas encantado sim, e muito, pela empregada. E análisando de forma fria e estratégica percebo que isto não me foi posto por acaso quando criança. Mas para que a realidade de hoje não me golpeasse, tal qual faz o madereiro as arvores com seu machado.Anteviram, pois, que seu filho vivenciaria contos e fantasias infantis, sem que ninguém os lesse. Pasmem se estiver mentindo! Ao certo não sei, mas acho que foi na Arábia, ali existiu o Ali e os quarenta..., aquele que roubava e escondia o produto do golpe, em uma caverna secreta, porque na época não haviam contas no exterior e nem cuecas. Caverna esta fechada por uma grande pedra, que só podia ser mágica, abria sómente com as palavras Abre-te Sesamo. observe na época tambem não tinha um Congresso, não sei o final da historia e fico intrigado eles foram presos? Bem, o tempo passou, e como passou, hoje retornam em cena, sem o Ali é claro, mas são os quarenta, indicados ao Oscar da fraudulência, não faça vista grossa, leia-se indíciados. Quarenta são os indicados, poucos serão indíciados e muito menos serão presos. Não é um conto de fada? Será? Fim.

SINFONIA DA CHUVA

Um clarão risca a noite, ouve-se um estrondo e as luzes se apagam, escuridão total. Todos emudecem. Segundos de silêncio que parecem eternidade. Vagarosamente a chuva vaí caindo, gotas rolam continuamente pelo telhado até arrebentar-se sobre a calçada, ploc plec tlec. Cada gota um pingo cada pingo uma nota. Caí um DÓ aqui, um RÉ ali, caí um MÍ que não ouvi, um FÁ acolá, um SÓL que não tem, um LÁ que não vem, um SÍ sem fim. Gotas que pingam sobre o papelão PLOC, gotas que pingam sobre plástico PLEC, gotas que pingam sobre tábuas TLEC, gotas que sobre baldes pingam PLOC TLEC. Sons altenados e rítmicos formando uma pequena bateria musical de bela melodia, aos encantos dos ouvidos envolvendo coisas do dia a dia. Aquelas gotas preguiçosas agora são mais rápidas e em maior quantidade, aos poucos este musical vaí aumentando, seu barulho já parece superar as grandes baterias. Novos instrumentos somam-se a esta orquestra, as bruscas trovoadas parecem o retumbar de tambores quebrando ligeiramente a melodia. Como se fora um trompete, o vento busca também o seu espaço, uivando por entre as árvores. Uma goteira se desfaz sobre a folha de zinco, como o bater de pratos numa orquestra, em resposta a regência do maestro. A escuridão permanece. Por vezes iluminada pelos relâmpagos que antecedem as trovoadas, como se flash registrassem em fotos o momento. A maestria da natureza torna nossa pequena bateria em uma grande e ordenada orquestra musical, a executar sinfonia indescritível. A platéia mergulhada em sonhos, extasiada dorme. E como tudo começou, findando, a chuva encerra poéticamente seu concerto, para receber os aplausos. E fechando lentamente a cortina do palco da noite, desperta o sol com novas melodias.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Só no ato um só momento Só no momento um só pensamento Só no pensamento uma só lembrança Só na lembrança uma só saudade Só na saudade, só Você!

SAUDADE

Palavra perene de desengano e auto afirmação Ficamos dolente quando nos atinge o coração Se partistes e não sentistes então desistes Pois nada é tão triste, quanto a saudade Saudade que em mim existe

ÍMPETO MISTO

Um sorriso inicial Um olhar ao dançar Na simpátia e afeição Nasce a compreenção Amizada formada Uma namorada Um meio beijo Desperta os desejos Paixão e atração Unem dois corações Momentos de tensão Vivem as emoções Misto de mêdos e indecisões Ganha o desejo perde a razão Quebrado o encanto Perdem-se no canto Corpos se unem Em silêncio unico Abraços e beijos Saciam o desejo Finda só em pensamento Haverá um novamente

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

ENAMORADO

Uma rosa um botão Lançada ao coração Enlaça enamorado O olhar de sua amada Enaltece sem ter pressa Esse timido começo Sabendo por esperar Quem quer e sabe amar Nesse dia não marcado Há um eterno namorado

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

MISSÃO FINAL

Sopra o vento em prece Partistes tão depressa Sua bagagem sem cor Leva flores incolor Partes e deixa amando Filhos seus hoje chorando Na vida esvaziada Deixa também sua amada Finda a grande jornada Da vida prá eternidade

domingo, 11 de janeiro de 2009

BATALHA

Trava a luta cruel Lança no corpo o fel Deglatiando com angustia Por esse amor ser injusto Busca aliviar a morte Tenta a conquista na sorte Faz-se sentir um amante Em seu olhar fulminante Amar é para sempre Odiar nem sempre Resta a batalha final Vence o bem não vence o mal

FERIDA FATAL

Vertiginiosa e certa Parte louca a flecha Lançada pelo inimigo Descobre o peito amigo Ferido em grande dor Pela angustia do amor Prostado em terra atira O seu último suspiro Partindo prá eternidade Sem ter a sua amada